Alto índice de evasão escolar, falta de concentração, defasagem na aprendizagem, crise de saúde mental. O cenário do pós-pandemia na educação do país é preocupante e os educadores correm atrás para minimizar os impactos e melhorar o desempenho dos estudantes. Há muito o que fazer. Especialistas vêm contribuindo com a divulgação de pesquisas que, mais do que comprovar o atual momento, podem ajudar a encontrar soluções que garantam a qualidade do ensino no futuro.
Levantamento recente do Ministério da Educação mostra que existe hoje um atraso na aprendizagem dos alunos e que muitos acabam regredindo em algumas áreas. De acordo com os indicadores, o índice de crianças do segundo ano do ensino fundamental que ainda não sabiam ler nem escrever passou de 15% para 34%. A aprendizagem desses alunos também caiu em matemática, de 16% para 22%, o que significa que não conseguem fazer operações básicas, como soma e subtração. Os resultados ruins também se repetem no ensino médio, principalmente em português e matemática.
Mas é o ensino fundamental que mais preocupa por ser considerado uma etapa importante para o desenvolvimento do cidadão. Os problemas dessa fase poderão reverberar no aprendizado futuro, na formação social e no ingresso ao mercado de trabalho. Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) – IBGE, o Brasil possui hoje cerca de 11 milhões de jovens analfabetos acima dos 15 anos de idade, o que indica que é preciso avaliar a qualidade do ensino prestado pelas instituições, já que esses alunos acabaram de concluir o ensino fundamental.
A conta de dois anos em que crianças e adolescentes ficaram praticamente paradas em casa, com mães e avós sem conseguir acompanhar o ensino por falta de tempo, de computador ou de internet, chegou e desafia especialmente os professores, que tentam entender e organizar os conflitos com muita paciência e dedicação. Esses profissionais, inclusive, passaram a ser mais valorizados porque os pais perceberam a importância da troca em sala de aula.
Há casos de alunos que deixaram de ser alfabetizados na fase em que deveriam, outros que estavam indo muito bem e agora regrediram, e ainda, àqueles que os problemas emocionais não deixaram avançar. Jovens que ficaram tanto tempo isolados e sem fazer nada, hoje têm dificuldade de se concentrar e de socializar e preferem fazer outras coisas.
A saúde mental é também muito importante para o aprendizado. Problemas de crianças com sintomas de depressão e ansiedade passaram a ser comuns, o que é algo novo no sistema de ensino brasileiro. Muitos alunos não conseguem atendimento psicológico na rede pública. Existem, ainda, outras demandas relacionadas ao bem-estar psicológico dos alunos, como a violência doméstica, sexualidade e gênero. Mais uma vez são os professores que tentam ajudar encaminhando os alunos para acompanhamento adequado.
É hora de resgatar a saúde mental desses jovens, de devolver a vontade de aprender, de trocar entre os amigos, e claro, é o momento de repor o conteúdo que foi perdido. Não adianta apresentar o teor da matéria atual sem trabalhar, em paralelo, o que deixou de ser aplicado. Mais do que isso. É importante investir na qualificação e na saúde emocional dos profissionais de ensino de forma que fiquem mais preparados para a tão desafiadora conjuntura atual.
A pandemia foi muito ruim em diversos aspectos, e não seria diferente na área da educação. Mas já podemos colher alguns aprendizados. Ficou claro que a tecnologia é um caminho sem volta. Utilizar plataformas online bem desenvolvidas funciona, porém não é um modelo para todos — os alunos mais disciplinados e os adultos conseguem lidar melhor com o processo. Para crianças e adolescentes, as aulas virtuais precisam ser acompanhadas da vivência escolar presencial.
Por fim, compete às escolas tentar ajudar os alunos da maneira que for possível para diminuir a defasagem escolar; ao governo investir em políticas públicas que incentive a qualificação de professores e atendimento psicológico aos alunos; e a toda sociedade colaborar com nossos alunos para que não desistam de buscar uma educação de qualidade e que será fundamental para o seu futuro.
Fonte: Exame