Na última sexta-feira (10), uma publicação no Twitter, com mais de sete milhões de visualizações, mostrou três universitárias debochando da estudante de biomedicina, Patrícia Linares, pelo fato de ela ter “40 anos”. No vídeo, uma das estudantes ironiza: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Logo na sequência, outra jovem responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”.
Em comentário preconceituoso, as jovens ofendem a outra estudante, dizendo que a mulher “não sabe o que é Google”. O tipo de discriminação deste caso é enquadrado como etarismo, que segundo o Relatório Mundial sobre Idadismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), refere-se a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionados às pessoas com base na idade que têm”.
Apesar da tristeza ao ver o vídeo preconceituoso antes da apresentação de um trabalho, Patrícia recebeu o apoio de colegas que montaram uma rede de solidariedade. Uma das universitárias agressoras disse ao g1 no sábado (11), que ela e as amigas estão arrependidas do que falaram e que o vídeo foi uma “brincadeira de mau gosto”. A ação, no entanto, é enquadrada em crimes previstos pelo Código Penal (injúria, difamação e violência psicológica), podendo levá-las à prisão.
O caso ganhou repercussão no Brasil, chamando atenção para os desafios de atingir a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4, que diz sobre assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas as pessoas.
Conforme aponta o Relatório Luz 2022, documento elaborado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 e que analisa a implementação dos objetivos, o país tem retrocedido na pauta educacional, já que nenhuma meta deste ODS teve avaliação positiva.
A educação de jovens e adultos (EJA) também retrocedeu em 2021, houve redução de 46.759 mil matrículas na rede pública entre 2020 e 2021; a maior participação é das mulheres na educação profissional (62,2% das matrículas na faixa etária de 40 a 49 anos) e da população negra (85,4%), evidenciando marcadores sociais de desigualdades e mostrando como o desinvestimento e a precarização do ensino reforçam as inequidades de gênero e de raça.
Segundo o Censo escolar 2022, a EJA enfrenta queda no número de matrículas desde de 2018. No último ano, os matriculados na rede pública e privada foram de 2.962.322 em 2021 para 2.774.428.
Terceiro Setor e a educação para adultos
Atuando para revertes este cenário, para um mundo mais justo e igualitário através da promoção da educação de qualidade, a instituição social Amigos do Bem busca romper o ciclo de fome, miséria e desigualdade social. Além de levar educação para 10 mil crianças e jovens em seus Centros de Transformação, homens e mulheres que trabalham nas 15 unidades produtivas no sertão também recebem aulas de alfabetização.
“Mais de 500 adultos já foram alfabetizados e 197 estão recebendo aulas nos Centros de Transformação localizados no sertão de Alagoas, Ceará e Pernambuco. Além do ensino básico, investimos em inclusão digital e no acesso à tecnologia para as famílias atendidas pelo nosso projeto. Além de jovens, adultos também cursaram a faculdade e receberam bolsa de estudos dos Amigos do Bem; milhares de adultos deixaram um passado de pobreza extrema e hoje são os impulsionadores dos filhos, mostrando às próximas gerações que é possível sonhar e que a transformação é realidade”, comenta Alceu Caldeira, diretor institucional dos Amigos do Bem.
Inspiração para o combate ao etarismo, o Instituto Velho Amigo é uma organização sem fins lucrativos que atua na defesa dos direitos de pessoas idosas há mais de 20 anos. Em seu Núcleo de Convivência de Idosos em Heliópolis, a instituição oferece uma oficina de letramento e aprendizagem que visa impulsionar os processos de envelhecimento saudável e qualidade de vida para os idosos em situação de vulnerabilidade social.
Utilizando a construção coletiva do conhecimento, o respeito à diversidade cultural, o diálogo como mecanismo de produção de conhecimento e a formação ética dos professores e alunos, a Ação Educativa também atua nas áreas de educação. Para atingir esse objetivo na alfabetização de adultos, a entidade utiliza a metodologia e filosofia freireana, do educador Paulo Freire.
Outras iniciativas como o programa de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos do Instituto Yduqs, e o projeto Alfabetização para a Vida, do Camino School realizam ações de combate ao etarismo e as desigualdades de acesso à educação.